segunda-feira, 17 de setembro de 2018

o que ressoa em um abraço de despedida

um último dedilhar
numa última canção
olhos fechados
e a voz,
a voz
um grito de despedida
uma página se virando
o além-mar esperando

do palco vazio
lágrimas de carinho
sorrisos que carregam
a ambiguidade das mudanças
então, os abraços
abraço-vivência
abraço-te amo
abraço-vai, faz tua história
abraço-volta
abraços
abraços apertados

do palco vazio
o desejo de histórias que virão
de vidas a serem compostas
dedilhadas e cantadas
a época dos marshmallows
não tardará a florescer novamente

domingo, 16 de setembro de 2018

6:28

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havia um pássaro que
todos os dias
com seu bater
me acordava
não lembro em que ano foi
nem por quanto tempo durou

havia um pássaro que
todos os dias
bicava minha janela
me trazia à realidade
fazia o mundo girar
precisamente às 6:28

seguíamos um ritmo
um toc-toc na janela
o onírico se esvaindo
meus olhos se abrindo
o virar de cabeça
a visão do pássaro a bicar
no relógio
invariavelmente
6:28
o tempo é colocado em seu eixo
e começa a girar

são oito horas
chove lá fora
o silêncio do bicar do pássaro
me faz lembrar daquele tempo
quantas 6:28 já se passaram?
continuo acordando
em horários não tão precisos
noites ainda amanhecem
o tempo, continua girando

 

sábado, 8 de setembro de 2018

por mais que sejas... será?

por mais linda que sejas
e os devaneios, que não param
de vir em minha cabeça
será que a possibilidade de concretizar
minhas mais oníricas fantasias
e colocar em prática
as minhas mais pensadas
pensadaspensadaspensadaspensadas
pensadaspensadaspensadaspensadas
pensadaspensadaspensadaspensadas
pensadaspensadaspensadaspensadas
pensadaspensadaspensadaspensadas
pensadaspensadaspensadaspensadas
pensadas táticas
estratégias de me mostrar
da melhor maneira, para você gostar
os dias que tento não te escrever
os outros, que espero você responder
será que vales esse tempo?
será que valho…?

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

dos olhares que sobre mim repousam

o que aconteceria se,
por um momento,
eu me tornasse o que veem,
todos os olhares,
que sobre mim repousam?


que sobre mim sabem
que sobre mim anseiam
que sobre mim almejam
que sobre mim se fecham
que sobre mim se repugnam
que sobre mim se alegram
que sobre mim lacrimejam
que sobre mim brilham
que sobre mim…
sobre… mim?


só por um momento,
todos ao mesmo tempo,
o que aconteceria?


eu despedaçaria

terça-feira, 4 de setembro de 2018

na eternidade de um olhar


num dia como qualquer outro, o sol me acorda de manhã cedo — eu sempre esqueço de fechar as cortinas do quarto —, o pensamento de, hoje eu começo a correr na praia, logo se esvai quando as coisas que preciso fazer ao longo do dia aparecem. levantar, me esvaziar, dentes, café, pão, banho, roupas, celular, fones, chaves. rotina.





os carros não param de passar, apressados, parecem apostar uma corrida imaginária. contra o tempo? contra si mesmos? os transeuntes, ainda esparsos a essa hora da manhã, vão se acumulando na parada. vejo alguns rostos conhecidos, de pessoas que desconheço. no aperto do transporte público, consigo me sentar na janela. estendo meus braços em sinal de solidariedade, pegando duas mochilas de quem não teve a mesma sorte que eu.





com o sol no rosto, prédios e pessoas sem rosto, me deixo envolver com a música. meu olhar a devanear. enredado nesse movimento, dos olhos, da música, do cotidiano… me vejo capturado. em teu olhar.





és alguém aleatório. por um momento, não tens sexo, não tens corpo, és só olhos. e, preso em ti, questiono o que me fez ter esse movimento. dentre todas as possibilidades ao meu redor. vais tomando forma, se delineando. minha mente se enche de possibilidades sobre você. quem és, pra onde vais, com quem vais interagir, o que estais escutando. e, imerso nesse compartilhar. de olhares (vidas?). pareces me formular as mesmas questões. quem somos?





meu olhar sério, numa mistura de intriga e surpresa, desse encontro inesperado, sorri ao encontro do sorriso dos teus. ou você que foi ao do meu?





vou virando a cabeça. você a sua. nossos olhares colados. até que, com a fluidez do trânsito, não mais.





mais que um piscar de olhos. uma respiração. na eternidade de um ou dois segundos. vidas que seguem. envolta em música. em meio ao tráfego. indo para algum lugar…


segunda-feira, 3 de setembro de 2018

hoje, sonhei contigo

sonhei contigo. foi estranho. tanto o sonho em si, quanto o fato de ter sido contigo. já faz alguns anos que não nos falamos direito. um oi aqui, como estais ali; muito espaçados um do outro. muito diferente de quando nos conhecemos, né? mas as vezes as coisas são assim: do nada surgem, pro nada voltam. apesar de ainda existir… mas ela não se foi do nada, a vida simplesmente aconteceu. acontece. ela sempre está acontecendo.


muitas vezes ela acontece de forma estranha. como num sonho…


como sempre, estávamos trocando mensagens de texto quando, do nada, me mandas uma fotos tua. fico sem reação e confuso com a imagem. reveladora. como as outras que não param de chegar. acordo. ainda sem entender o que aconteceu, te escrevo. me respondes rindo, falando da doideira que sonhei. a conversa vai desenrolando. estais num impasse. tentando se entender em um momento de crise. se reconhecer. camada após camada. de pensamentos, vivências e experiências. vamos nos mostrando. nos nutrindo. nos despindo.

sábado, 1 de setembro de 2018

o peso das gotas

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a folha, com o peso das gotas,
se inclina, parece quase quebrar
e quando o tempo parece ceder
a folha, apesar de molhada,
parece se erguer