laços

um nó confuso

um laço que prende
mas não amordaça
liberta
um nó que me lança
em mim
lá longe
aí longe

laço é descobrir-se no outro
com o outro
nó, mutualidade

amizade é um laço confuso
um nó que prende
nós
ao mundo

a nós mesmos, ficcionamos

fitando o flutuar das nuvens

horas se passaram
mil histórias já criei
foram tantos começos e fins
o meio, em suas constantes mudanças
foi, por mais incongruente que possa soar,
sempre o mesmo

nele, inventamos de tudo
tantas aventuras vivemos
até teletransporte criamos
a nós mesmos ficcionamos
fomos

somos

no cristalino azul acima
um pássaro nada e meu olhar o segue
o desejo de ser o mesmo céu, fere
meu telefone vibra
“nunca olharei o céu da mesma maneira”
meus devaneios se rompem
desmanchando, assim,
um possível fim

sessão de terapia

nervoso, eu

mal conseguindo me mexer
minhas mãos suam
um aperto na garganta
com tudo a falar, mas
sem saber o que dizer
semblante calmo, ele
parece relaxado na poltrona
me olha nos olhos

esboço uma resposta
algo cede um pouco
desata
transpassa seu olhar
sem julgar
posso falar
sem saber que pensava assim
me desconheço
reconhecendo-me

mais calmo, eu
sinto-me capaz de olhar
pra fora daqui
pra dentro de mim

espio a vida
sonhando o lá fora
pensando de dentro

espio meus pensamentos
vivendo lá fora
sonhando aqui dentro

“eu simplesmente me tornarei eu mesmo!”

não sei o que me tornarei

apenas vou sabendo
na medida em que as coisas
vão simplesmente aparecendo
acontecendo

mesmo quando planejo
as vezes as coisas não acontecem
outras surgem
e são
e assim
vou sendo

o gostar
o desgostar
o amor
o ódio
opostos que movem um mesmo ser
à encontros e desencontros que
projeto planejo me perco me acho me acham

e assim
nem sempre
exatamente assim
eu me torno
simplesmente
sendo

nota: o título, que me inspirou a escrever esse poema, é uma citação do livro Butcher’s Crossing, do John Williams.

silenciosa admiração

em minha silenciosa admiração

sigo acompanhando
observando

as palavras complexas
que se transmutam em mim
em singelas e detalhadas imagens

as fotografias que
apesar de transbordarem simplicidade
repercutem em mim um intricado
aglomerado de palavras complexas
que reverberam

e, por trás da tela
quando palavras e imagens
já não cabem mais em mim
escrevo
e sigo acompanhando
quase em segredo
em minha silenciosa admiração

assim como

assim como

sua mão em meu pescoço
sua boca na minha
seus dentes mordendo meus lábios
sua língua na minha
sua mão puxando-me para ti

faça com que nos percamos no tempo

temos tantas besteiras para conversar
tantos maus gostos para descobrir
tantos sonhos à compartilhar apoiar incentivar
tanta coisa para rirmos
do outro
com o outro

são tantas coisas que nos excitam…

conversa com o desconhecido

num incerto dia

chamei o desconhecido para conversar
espantado pelo convite ter sido aceito
e com mil perguntas em mente
desatei a falar

misterioso, como só ele poderia ser
o desconhecido parecia
não querer me responder nada
cada pergunta ia para rumos não esperados

ardiloso, como só ele poderia ser
a cada pergunta sobre o futuro
carregadas de dúvidas, angústias e curiosidades
sobre o que ele me traria
de alguma forma,
assim como ele, misteriosa
a fala voltava pra mim
sobre mim

silencioso, como só ele poderia ser
me fez desdobrar
transbordar
diluir cada pergunta
e acabei falando
sobre minhas dúvidas
curiosidades
angústias

misterioso, ardiloso e silencioso
como só ele poderia ser
me deixou só
num caos de pensamentos
não sabia eu
até este incerto dia
o quanto do desconhecido
havia em mim

chore, minha flor

 

chore, minha flor
pode chorar

do orvalho da madrugada
ao sol da manhã
tudo tem seu momento

mas não se esqueça que
mesmo na tristeza
pode haver
vislumbres de beleza

coração partido

quando com o coração partido
há quem busque um ombro amigo
junto os pedaços e pergunto
alguém quer brincar
de quebra-cabeça comigo?

no japão dos animes e mangás

no japão dos animes e mangás
rivais, motivam o crescimento pessoal
os amores
simples e sinceros
os presentes
simples e sinceros

aqui
do outro lado
por outro lado
rivais são inimigos
amores, jogáveis
presentes, grandiosos

com olhos “estreitos”
vêem o mundo de
ponta-cabeça

olhar inquieto

silêncio
que cala
que grita

olhar
que atravessa
vazio

silêncio que se fecha
olhar que fala

real ou interpretado
sentido encoberto ou apenas monotonia
possibilidades que podem tudo significar
mas diluem-se diante desse
silencioso olhar

vocêcadeiraeu

[caption id="attachment_133" align="aligncenter" width="2424"] foto por Thyeri Bione • @thyrbm[/caption]

me pediram para
imaginar você sentada aqui
na minha frente
falar o que eu até agora não consegui

me virei
de frente pra cadeira
vazia
você me olhava

falei
falei
falei

esvaziando-me falei
já sem saber de quem

você vazia
na cadeira
cheia de mim